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A maneira mais popular de entender o que é design é entender como “fazer algo bonito”, por isso a proliferação de designeres nas mais diferentes áreas de atuação como, por exemplo, “designer de sobrancelha”, mas essa é uma maneira desviada de compreender o que é design.
Para compreender o que é design podemos adotar duas abordagens linguísticas: a partir do português falado no Brasil ou a partir da origem dessa palavra no inglês falado nos Estados Unidos.
Pelo primeiro caminho, vamos buscar as formas como o design era referido antes de ser adotada essa palavra no nosso vernáculo. Por aqui os profissionais de design eram os Desenhistas Industriais que se dedicavam ao design de produtos e os Projetistas Visuais Gráficos, que se dedicavam ao design gráfico; logo se vê a economia e praticidade que levou à adoção da palavra de origem inglesa na nossa língua.
O segundo caminho é um pouco mais complicado porque envolve tradução ou versionamento de um conceito muito flexível na sua língua de origem mas que, num sentido geral, está sempre associado ao projeto, assim como as denominações adotadas antigamente no Brasil, pois “Desenho” em Desenho Industrial é adotado no sentido de ‘Desenho de Projeto”.
Projeto, ok, mas projeto de quê? Nos Estados Unidos a palavra “design” é utilizada para quase qualquer tipo de projeto e envolve a concepção de algo antes desse algo existir. É o “desenho” explicativo de como fazer alguma coisa que ainda não existe. Aqui no Brasil, como na maioria das culturas em que tenho algum conhecimento a respeito, o conceito de design está mais próximo do sentido dado ao Desenho Industrial, um tanto mais alargado de modo a incorporar outras atividades como o Projeto Visual Gráfico, entre outros, ou seja, é o projeto de algo a ser produzido em escala. Diferença sutil que explica o uso da palavra design na produção cinematográfica estadunidense, como em “production design”, o que não se faz em outras partes do mundo.
Se aceitarmos o sentido expandido dado pelos Estados Unidos como uma exceção, mesmo que esta palavra seja de sua língua materna, pois não vemos esse uso tão extenso em outros países de fala inglesa, podemos adotar um sentido majoritariamente adotado por todo o mundo para “design” e que corresponde a “projetar algo para ser produzido em escala”, ou seja, mais do que um.
As Tecnologias de Comunicação e Informação, que vêm dominando as produções humanas desde o final do século passado, trazem um complicador a mais para esse conceito que é a possibilidade de produzir coisas de duas maneiras novas: objetos virtuais e objetos customizados para cada indivíduo.
No primeiro caso essa problemática foi vivida (embora na maioria das vezes sem muita consciência crítica) pelo nascimento do design para a web, que veio buscar suas primeiras referências nas técnicas e valores dos projetistas visuais gráficos, a princípio, e que logo evoluiu para suas próprias especificidades, embora sem nunca abandonar as suas referências primárias ao projeto visual gráfico por sua grande similaridade na percepção, mas juntando as técnicas audiovisuais que a nova plataforma permite além de recursos que só essa plataforma oferece. A diferença aqui não se restringe à possibilidade de incorporar movimento e áudio nas peças mas, principalmente, porque de fato quem gera a peça final não é quem publica a peça, mas quem consome a peça. Assim, o design volta a ter um sentido mais próximo do sentido utilizado nos Estados Unidos que é como uma “receita de bolo”, ou seja, são indicações precisas de como o navegador do usuário (ou consumidor) deve gerar determinada peça (ou página) prevendo inclusive, o mais possível, as diferentes possibilidades dos diferentes dispositivos do consumidor/usuário. Mas o mais importante dessa peculiaridade é que o sentido de escala é até ampliado, pois o mesmo projeto, o mesmo desenho, pode ser reproduzido um incontável número de vezes, conforme as mesmas especificações.
No segundo caso, as chamadas impressoras 3D e a robótica passaram a possibilitar a produção industrial sob demanda e com escala de objetos únicos mas também, como no caso da web, conforme um projeto único como fonte que prevê, o mais possível, todas as possíveis alterações que pode sofrer cada exemplar.
Vemos assim que apesar do aumento da complexidade conceitual característica desse início de século, podemos entender design como “projeto de algo a ser produzido em escala”, tal como entendiam os designeres da Bauhaus.
Embora seja comum encontrar na literatura o termo “design” associado à Bauhaus, eu não saberia dizer com toda a convicção se os pesquisadores, estudiosos e profissionais que lá trabalharam usaram alguma vez esse termo, mas é inegável que ela, a Bauhauss, é o berço e a fonte inspiradora de todo o design atual. Com o objetivo expresso de “Incentivar a formação de comunidade através da arte” a Bauhaus reuniu artistas, arquitetos, artesãos, desenhistas industriais para “servir o novo ser humano” que surgia no início do século XX com a hegemonia da cultura industrial.
Aqui, na origem (não do termo, mas do design em si) encontramos a mais bem fundamentada associação entre design e estética, projeto e arte, pois foi exatamente o que propôs a Bauhaus e foi seguida nisso por todo o mundo.
Existe porém uma chave para compreender essa interação original entre arte e projeto, segundo a visão de Walter Gropius e demais pensadores dessa escola. Até então a visão estética derivava das referências clássicas ou naturais, como se via na arquitetura, na escultura e nas artes em geral, mesmo as artes gráficas. A partir da Bauhaus a estética assumiu um novo paradigma, baseado na cultura industrial, fundamentado no duo forma e função.
Assim a Bauhaus propôs uma nova estética em que o belo deixou de ser uma referência ao passado ou ao que já existia, passando a se referenciar no futuro, na usabilidade, na praticidade, na eficiência e na simplicidade.
Formas limpas, simples de serem reproduzidas, com alta eficiência no uso e uma tensão estética causada também pelo novo, pelo inédito, vieram a se impor como o novo belo.
Toda a arte e design modernos foram fortemente influenciados por essa visão e foi assim que nós formamos nossa cultura atual, que foi toda fundamentada nos movimentos modernistas. Mesmo os pós modernos, que não poderiam ser pós não fosse o modernismo, não é?
Um século depois vivemos tempos fluidos demais para nos apegar a conceitos rígidos e inflexíveis, mas um fundamento que dá a essência do design continua tão válido quanto em sua origem: que a estética, o belo em uma peça de design, seja ele de qual especialidade for, está no duo forma e função. O que significa dizer que algo que não funcione como se espera não pode ser belo, que perfumarias, adendos, puxadinhos, arabescos etc devem ser usados com muito cuidado e critério pois a função determina a forma e é nessa harmonia que está a beleza.
Para saber um pouco mais sobre a Bauhaus, leia na Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bauhaus